Explicando a segunda carta de Paulo ao Pastor Timóteo



ESBOÇO Tema-chave: Preparação para o ministério nos últimos dias

Versículos-chave: 2 Timóteo 1:13,14

I. O APELO PASTORAL-

CAPÍTUL01 A. Entusiasmo valente -1:1-7

 B. Sofrimento honrado -1:8-12

C. Lealdade espiritual - 1:13-18

II. O APELO PRÁTICO - CAPÍTULO 2

A. O despenseiro - 2:1,2

 B. O soldado - 2:3,4,8-13

 C. O atleta - 2:5

D. O agricultor - 2:6, 7

 E. O obreiro - 2:14-18

 F. O vaso - 2:19-22

G. O servo - 2:23-26

III. O APELO PROFÉTICO - CAPÍTULO 3

 A. Fuja dos falsos - 3:1-9

B. Siga os verdadeiros - 3:10-12

C. Permaneça na Palavra de Deus - 3:13-17

IV. O APELO PESSOAL - CAPÍTULO 4

A. Pregue a palavra - 4:1-4

B. Realize seu ministério - 4:5-8

 C. Seja diligente e fiel - 4:9-22
CONTEÚDO 1. Cristãos valentes (2 Tm 1)........................312 2. Compreendendo a situação (2 Tm 2)........................318 3. O que fazer antes do fim (2 Tm 3)........................324 4. Últimas palavras (2 Tm 4)........................330

                                                     C ristãos V alentes
                                                           2 T im ó t e o
      
                                                                    1
Quando Paulo escreveu a carta que conhecemos como 2 Timóteo, sua si- tuaçao havia mudado drasticamente. Era prisioneiro em Roma e encarava morte certa (2 Tm 4:6). Por motivos diversos, quase todos os colaboradores de Paulo no ministério haviam partido, e só Lucas estava com o apóstolo para ajudá-lo (2 Tm 4:11). Foi, sem dúvida, um período sombrio. Mas a grande preocupação de Paulo não era consigo mesmo, e sim com Timóteo e com o sucesso do ministério do evangelho. Em sua Primeira Epístola a Timóteo, Paulo encorajou seu colega querido a ser fiel. Como vimos, Timóteo era tímido, tinha problemas de saúde e uma tendência a deixar que outras pessoas se aproveitassem dele e a não afirmar sua autoridade como pastor. O apóstolo enviou Tíquico para ficar no lugar de Timóteo em Éfeso, a fim de que Timóteo pudesse ir para junto dele em Roma (2 Tm 4:9, 12). Em breve, Deus tiraria Paulo de cena, e Timóteo assumiria seu lugar e continuaria a oferecer liderança espiritual às igrejas. No primeiro capítulo, Paulo apresenta a Timóteo três elementos essenciais que ele deveria possuir a fim de ser bem-sucedido.

                                          1. E n t u sia sm o valente (2 T m 1:1-7)
 O ministério do evangelho não tem espaço para um "espírito tímido" e sem entusiasmo. Na verdade, o entusiasmo valente é essencial para o sucesso em qualquer tipo de trabalho. Paulo compara essa atitude a atiçar o fogo até o máximo de seu ardor (2 Tm 1:6). Não devemos concluir que Timóteo apos- tatou nem que lhe faltasse fervor espiritual. Antes, o apóstolo está encorajando seu colaborador a manter o fogo ardendo intensamente, a fim de gerar poder espiritual em sua vida. Paulo oferece quatro estímulos a Timóteo

                                           O amor do apóstolo (w. 1, 2).
 "Ao amado filho Timóteo" é uma expressão muito mais forte do que "a Timóteo, verdadeiro filho na fé" (1 Tm 1:2). Paulo não amava Timóteo menos quando escreveu a primeira carta, mas, agora, expressa sua afeição de modo mais pleno. À medida que se aproximava do fim de sua vida, o apóstolo percebeu, em maior profundidade, quanto Timóteo lhe era querido.Paulo encontrava-se em uma situação difícil e, ainda assim, estava animado. Em primeiro lugar, era embaixador de Cristo ("apóstolo") e sabia que seu Senhor cuidaria dele. Qualquer que fosse seu destino, encontrava-se nas mãos de Deus, de modo que não havia motivo para temer. Além disso, Paulo tinha a "promessa da vida" em Jesus Cristo, e Cristo havia vencido a morte (2 Tm 1:10). Não é de se admirar que o apóstolo estendesse a Timóteo "graça, misericórdia e paz". (Convém observar que Paulo acrescentava a "misericórdia" nas saudações que escrevia a pastores - 1 Tm 1:2; 2 Tm 1:2; Tt 1:4; o apóstolo sabia que os pastores precisam de misericórdia!)

                                             As orações do apóstolo (w. 3, 4). 
Que grande estímulo para Timóteo saber que o grande apóstolo Paulo orava por ele! Paulo conhecia as fraquezas e problemas de Timóteo e podia orar especificamente por elas com verdadeiro interesse em seu coração. Sua oração não era rotineira; antes, era feita com interesse e compaixão. Sabendo que morreria em breve, Paulo sentia-se ansioso para que Timóteo fosse ter com ele em Roma, a fim de desfrutarem os últimos dias de comunhão e ministério. Esse encontro alegraria o coração do apóstolo. Não se deve supor que Paulo tenta justificar seus atos perversos antes de sua conversão ao afirmar que o fez "com consciência pura". Afinal, havia aterrorizado cristãos, forçado pessoas a blasfemar e a negar a Cristo e concordado com o assassinato de Estêvão! É verdade que Paulo acreditava estar servindo a Deus (ver Jo 16:2) e que vivia em ignorância espiritual (1 Tm 1:13), mas esses fatos não garantem uma "consciência pura".Paulo conhecia a Deus desde sua infância, pois era "hebreu de hebreus" (Fp 3:5). Seus antepassados haviam lhe transmitido a fé judaica ortodoxa. Mas quando encontrou Jesus Cristo, o apóstolo se deu conta de que sua fé judaica era apenas uma preparação para a plenitude que Cristo lhe oferecia no cristianismo. Não serviu a Deus "com consciência pura" desde seus antepassados, como dizem algumas versões da Bíblia. Antes, tomou conhecimento do Deus verdadeiro por meio de seus antepassados e agora servia a Deus com consciência pura. O fato de ter a consciência pura dava-lhe poder em suas orações.

                              A confiança do apóstolo em Timóteo (v. 5).
 Paulo não acreditava que as lágrimas de Timóteo (v. 4) eram prova de fracasso ou de insinceridade. Estava certo de que a fé de Timóteo era autêntica e o sustentaria até o fim, apesar das dificuldades pelas quais passava. Ao que parece, Lóide, a avó de Timóteo, foi a primeira da família a se converter, seguida de Eunice, a mãe do rapaz. O pai de Timóteo era grego (At 16:1), de modo que Eunice não havia seguido a fé judaica ortodoxa. No entanto, Lóide e Eunice haviam feito o possível para que efe aprendesse das Escrituras (2 Tm 3:15), o que foi um excelente preparo para ouvir o evangelho. É provável que Timóteo tenha se convertido quando Paulo foi a Listra em sua primeira viagem missionária. Quando o apóstolo voltou, em sua segunda viagem, chamou Timóteo para trabalhar com ele no ministério. Paulo havia observado a vida e o serviço de Timóteo ao longo daqueles anos que passaram juntos. Estava certo de que a fé do rapaz era autêntica. Na verdade, Timóteo possuía um grande legado; havia sido criado em um lar piedoso, treinado por um apóstolo extraordinário e recebido oportunidades maravilhosas de servir ao Senhor.


                          O dom concedido por Deus a Timóteo (w . 6, 7).
 Paulo lembra Timóteo de quando foi chamado por Deus para o ministério e ordenado pela igreja local. Paulo impusera as mãos sobre Timóteo (1 Tm 4:14), e, por meio do apóstolo, Deus havia lhe concedido o dom espiritual de que precisava para seu ministério. A imposição de mãos era urrta prática comum no tempo dos apóstolos (At 6:6; 13:3), mas nenhum cristão de hoje tem a mesma autoridade e os mesmos privilégios que os apóstolos. Hoje, quando impomos as mãos sobre as pessoas a fim de ordená-las par^ o ministério, realizamos um ato simbólico que não lhes concede, necessariamente, algum dom espiritual especial. É o Espírito Santo quem capacita a servir a Deus, e, por meio dele, é possível superar o medo e as fraquezas. A palavra "covardia", em 2 Timóteo 1:7, significa "timidez, fraqueza de ânimo". O Espírito Santo dá poder para testemunhar e servir (At 1:8). De nada adianta tentar servir a Deus sem o poder do Espírito Santo. O talento, o treinamento e a experiência não podem substituir o poder do Espírito. O Espírito Santo também concede o amor. Tendo amor pelas almas perdidas e pelo povo de Deus, seremos capazes de suportar o sofrimento e de realizar a obra de Deus. O egoísmo causa temor, pois o egoísta preocupa-se apenas com o que ganhará ao servir a Deus e teme perder prestígio, poder ou dinheiro. O verdadeiro amor cristão, "derramado em nosso coração pelo Espírito Santo" (Rm 5:5), dá a capacidade necessária para que nos sacrifiquemos pelos outros e não tenhamos medo. O Espírito concede o amor (Gl 5:22). O Espírito também concede o domínio próprio ("moderação"). Esse termo é relacionado à idéia de ser sóbrio, sensato, criterioso e ter bom senso, encontrada com freqüência nas epístolas pastorais (1 Tm 2:9, 15; Tt 1:8; 2:2, 4, 6, 12). Uma tradução mais apropriada para "m oderação" (2 Tm 1:7) é "autodisciplina". Descreve a pessoa sensata e equilibrada, que tem a vida sob controle. Timóteo não carecia de novos ingredientes espirituais em sua vida; precisava apenas "reavivar" o que já possuía. Em sua primeira carta, o apóstolo lhe escreveu: "Não te faças negligente para com o dom que há em ti" (1 Tm 4:14). Agora, acrescenta: "te admoesto que reavives o dom de Deus". O Espírito Santo não nos abandona quando falhamos (Jo 14:16), mas não pode nos encher, nos dar poder nem nos usar quando negligenciamos a vida espiritual. É possível entristecer o Espírito (Ef 4:30) e apagar o Espírito (1 Ts 5:19). Não faltavam motivos para Timóteo animar-se e ter entusiasmo espiritual em seu ministério. Paulo o amava e orava por ele. Suas experiências ao longo da vida haviam sido uma preparação para o ministério, e Paulo estava certo da autenticidade da fé de Timóteo. O Espírito dentro dele lhe daria o poder de que precisava para ministrar. O que mais poderia desejar

                            2 . S o frim e n to h o n ra d o (2 Tm 1:8-12)
A idéia central deste capítulo é: "Não te envergonhes". Paulo não se envergonhava (2 Tm 1:12); admoestou Timóteo a não se envergonhar (2 Tm 1:8); e relatou que One- síforo não tinha vergonha das algemas do apóstolo (2 Tm 1:16).

             Não se envergonhe do testemunho do Senhor (w. 8-10).
 A timidez natural de Timóteo poderia torná-lo propenso a evitar circunstâncias em que ele precisaria testemunhar ou sofrer. Mais uma vez, Paulo oferece a seu colaborador o estímulo necessário. Deus nos dá poder (v. 8). Por natureza, ninguém gosta de sofrer. Até mesmo Jesus orou: "Pai, se queres, passa de mim este cálice" (Lc 22:42); e Paulo pediu três vezes que Deus removesse o espinho na carne que lhe causava dor (2 Co 12:7, 8). Mas o sofrimento pode muito bem ser parte da vida cristã fiel. O cristão não deve sofrer em decorrência de algo errado que fez (1 Pe 2:20; 3:1 7). Antes, pode acontecer de sofrer por ter feito a coisa certa e servido a Deus. Quando sofremos por fazer o bem, participamos dos sofrimentos de Cristo (Fp 3:10) e sofremos por amor à igreja toda (Cí 1:24). Anos atrás, li sobre um cristão que estava na prisão por causa de sua fé. Havia sido condenado a morrer na fogueira e estava certo de que não seria capaz de suportar o sofrimento. Uma noite, experimentou colocar seu dedo mínimo sobre uma vela para ver quanto poderia agüentar. Assim que sentiu dor, tirou o dedo da chama e disse para si mesmo: "Certamente envergonharei meu Senhor. Não sou capaz de suportar a dor". Mas, quando chegou a hora da sua execução, ele louvou a Deus e deu um nobre testemunho de Jesus Cristo. Deus ihe deu o poder no momento em que foi necessário, não antes Deus nos chamou pela sua graça (v. 9). Fazemos parte do plano eterno e maravilhoso de Deus elaborado "antes dos tempos eternos". Deus conhece o fim desde o princípio. O Senhor tem propósitos para seu povo alcançar para a glória dele. O sofrimento é parte do plano de Deus. Jesus Cristo padeceu dentro da vontade de seu Pai aqui na Terra, e todos os que nele crêem também enfrentam sofrimentos (Ef 2:8, 9; Tt 3:5). Ele não nos chamou com base em nossas boas obras, mas única e exclusivamente segundo sua graça. Devemos cumprir seus propósitos, e, se estes incluem sofrimento, devemos aceitá-lo pela fé, certos de que Deus sabe o que é melhor. Não se trata de fatalismo, mas sim de confiança no plano sábio de nosso bondoso Pai celestial. Toda essa graça nos foi concedida em Jesus Cristo. Não se pode conquistá-la, e ninguém a merece. Essa é a graça de Deus! Cristo venceu a morte (v. 10). A timidez vem do medo. Mas o que tememos? O sofrimento e a possível morte? Pauio estava diante da morte quando escreveu esta carta. Mas Jesus Cristo derrotou a morte, o último inimigo! Por meio da própria morte e ressurreição, Cristo "destruiu a morte" (tornou-a inoperante, removeu seu aguilhão). "Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?" (1 Co 15:55). Cristo não foi apenas o Destruidor da morte (ver Hb 2:14, 15), mas também o Revelador da vida e da imortalidade. No Antigo Testamento, as doutrinas da vida eterna, morte, ressurreição e eternidade ainda eram obscuras. Encontramos alguns vislumbres aqui e ali, mas, no geral, o quadro é obscuro. Então, Jesus Cristo resplandeceu sua luz sobre a morte e a sepultura. Por meio do evangelho, trouxe a certeza da vida eterna, a ressurreição e a esperança do céu. Grupos religiosos que pregam o "sono da alma" e outras doutrinas estranhas costumam basear suas idéias nos Salmos e em Eclesiastes. Em vez de deixarem a luz clara do Novo Testamento resplandecer sobre o Antigo Testamento, olham para o Novo através das sombras do Antigo! Se dermos as costas para a luz do evangelho, só faremos mais sombra e aumentaremos a obscuridade. A "imortalidade" (2 Tm 1:10) representa a "incorruptibilidade" e se refere à ressurreição física. O corpo em que nos encontramos é corruptível; ele morre e se decompõe. Mas o corpo glorificado que teremos quando virmos Cristo não estará sujeito à corrupção nem à morte (1 Co 15:49-58; Fp 3:21). Na verdade, a herança celestial na qual temos parte será "incorruptível, sem mácula, imarcescível" {1 Pe 1:4). 

             Não se envergonhe do prisioneiro do Senhor (w . 11, 12).
Apesar de ser um prisioneiro, Paulo continuava dando testemunho do evangelho de Jesus Cristo. Infelizmente, o povo de Éfeso havia abandonado o apóstolo em um momento de necessidade (2 Tm 1:15). Muitos dos efésios poderiam ter ido a Roma testemunhar em favor de Paulo, mas não o fizeram. Sentiram vergonha de ser identificados com o apóstolo! Teria sido muito mais fácil para o ministério de Timóteo em Éfeso (e nas cidades vizinhas; ver 2 Tm 4:13) se ele houvesse seguido o exemplo dos outros; mas Paulo admoestou-o a permanecer fiel e apresentou quatro motivos peios quais Timóteo não deveria se envergonhar de seu relacionamento com ele, Paulo, o prisioneiro. Paulo foi chamado por Deus (v. 11). Jesus Cristo havia se encontrado com Paulo na estrada para Damasco (At 9) e o havia chamado pessoalmente para o ministério. Paulo era um arauto ("pregador") do evangelho. Na Antiguidade, o "arauto" era o mensageiro oficial do rei ou imperador, e sua mensagem era tratada com grande respeito. O fato de cristãos professos da Ásia estarem rejeitando Paulo não mudava seu chamado nem sua mensagem. Não era apenas um arauto, mas também um apóstolo, "uma pessoa enviada com uma comissão". Nem todo cristão era apóstolo de Jesus Cristo, pois era preciso ter certas qualificações e ser escolhido pessoalmente pelo Senhor ou por seu Espírito (ver At 1:15-26; 1 Co 9:1; 2 Co 12:12). O apóstolo era um representante de Jesus Cristo. Rejeitar o apóstolo era o mesmo que rejeitar ao Senhor. Paulo era um mestre dos gentios. Foi justamente a palavra "gentios" que provou seu primeiro encarceramento em Roma (At 22:21 ss). Os cristãos gentios na Ásia deveriam ter demonstrado sua apreciação por Paulo unindo-se para apoiá-lo, pois, afinal de contas, Paulo havia lhes trazido as boas-novas da salvação. Em vez disso, porém, estavam envergonhados dele e tentaram não se envolver. Paulo estava confiante em Cristo (v. 12). O apóstolo não sentia vergonha, pois sabia que Cristo era fiel e que o guardaria. É interessante observar sua ênfase sobre a pessoa de Cristo: "porque sei em quem tenho crido". Não somos salvos pela fé em certas doutrinas, por mais importantes que sejam. O pecador é salvo porque crê numa Pessoa: Jesus Cristo, o Salvador. Paulo havia deixado sua alma sob os cuidados e a proteção do Salvador e estava certo de que Jesus Cristo seria fiel em guardar seu depósito. Que diferença fazia para o apóstolo o que aconteceria neste ou naquele dia? O que importa, de fato, é o que acontecerá "[naquele] Dia", quando Jesus Cristo recompensar seus servos (ver 2 Tm 1:18; 4:8). Nos tempos difíceis em que vivemos, é importante manter a fidelidade a Cristo e estar dispostos a padecer por ele sem qualquer vergonha. Talvez não sejamos presos, como Paulo, mas sofremos de outras maneiras: perdemos amigos, não somos promovidos no trabalho, perdemos clientes, somos desprezados por outros etc. Também é importante apoiar servos de Deus que estão sendo afligidos por amor à justiça. 

                                 3. L e a l d a d e e s p ir it u a l (2 Tm 1:13-18) 
A obra de Deus, ao longo dos séculos, foi realizada por homens e mulheres que permaneceram firmes em meio às provações. Teria sido conveniente fazer concessões indevidas, mas não se deixaram abalar. Paulo foi um desses homens e, aqui, incentiva Timóteo a seguir seu exemplo com dupla lealdade.

                                   Sê leal à Palavra de Deus (w. 13, 14).
Deus havia confiado a Paulo o depósito da verdade espiritual (1 Tm 1:11), e o apóstolo passara esse depósito adiante para Timóteo (1 Tm 6:20). Agora, cabia a Timóteo a responsabilidade solene de "[manter]" (2 Tm 1:13) e "[guardar]" (2 Tm 1:14) o depósito precioso da verdade cristã e passá-lo adiante a outros (2 Tm 2:2). A palavra "padrão" (2 Tm 1:13) refere-se a "modelo, a projeto de um arquiteto". A Igreja primitiva possuía um conjunto de doutrinas claras, um padrão usado para avaliar todos os ensinamentos. Se Timóteo mudasse esses parâmetros ou se os colocasse de lado, não teria com que testar outros mestres e pregadores. É por essa razão que, hoje, também é preciso apegar-se ao que Paulo ensinou. Deve-se observar, porém, que a ortodoxia de Timóteo deveria ser temperada "com fé e com o amor que está em Cristo Jesus". O padrão divino é dizer "a verdade em amor" (Ef 4:15). No anseio por defender a fé, é fácil tornar-se agressivo ou controlador e criar problemas. Foi o Espírito Santo que confiou a verdade a Timóteo e ele o ajudaria a guardá-la. Sem o ministério do Espírito, não há meios de compreender a Palavra de Deus. É o Espírito quem deve nos ensinar (Jo 16:13) e nos capacitar, a fim de guardarmos a verdade e de compartilhá-la com outros. Desde o princípio da história humana, Satanás opõe-se à Palavra de Deus. "É assim que Deus disse...?" (Gn 3:1), foi a primeira pergunta que Satanás fez aos seres humanos. Ao longo de toda a história da Igreja, a Palavra de Deus tem sido atacada, com freqüência por pessoas de dentro da Igreja; no entanto, ela permanece até hoje. isso porque mulheres e homens consagrados (como Paulo e Timóteo) guardaram o depósito fielmente e o transmitiram a uma nova geração de cristãos. Quando uma igreja ou qualquer outra instituição cristã torna-se liberal, normalmente esse processo começa com um enfraquecimento das convicções de seus líderes acerca da Palavra de Deus. 

                                         Sê leal ao servo de Deus (vv. 15-18).
Naquele tempo, a província da Ásia era constituída pelos territórios romanos de Lídia, Mísia, Cária e Frigia. Em sua segunda viagem missionária, Paulo foi proibido de ministrar nessa região (At 16:6); mas em sua terceira viagem, ficou quase três anos em Éfeso, a capital da Ásia, e evangelizou a província inteira (At 19; 20:31). As sete igrejas da Ásia eram todas dessa região (Ap 1:4, 11). Não se sabe quem eram Fígelo e Hermó- genes (2 Tm 1:15). É provável que fossem líderes da Igreja que se opuseram a Paulo e se recusaram a defendê-lo em Roma. Seria de se esperar que os cristãos da Ásia apoiassem o apóstolo; mas, em vez disso, se envergonharam dele e, ao mesmo tempo (quer soubessem disso quer não), de Cristo (ver 2 Tm 4:16). Por certo, foi um período triste para Paulo. Demas o abandonara (2 Tm 4:10). Seus outros colaboradores haviam sido enviados para ministérios em lugares distantes. Falsas doutrinas espalhavam-se pela Igreja (2 Tm 2:17, 18). Paulo ansiava por estar livre para pregar a Palavra e defender a fé, mas se encontrava em uma prisão romana. Cabia a Timóteo fazer o que era preciso. No entanto, houve um homem que ousou deixar Éfeso e ir a Roma para ajudar Paulo: Onesíforo. Seu nome significa "aquele que dá lucro" e, sem dúvida, foi um amigo muito "lucrativo" para Paulo. É possível que fosse um diácono da igreja de Éfeso ("serviço", em 2 Tm 1:18, vem do termo que dá origem à palavra "diácono"). Durante o ministério de Paulo em Éfeso, Onesíforo e sua casa mostraram-se cristãos fiéis. Uma vez que Timóteo havia pastoreado a igreja de Éfeso, conhecia esse santo exemplar. Gostaria de acrescentar que todo pastor é grato por aqueles membros que o ajudam na obra do Senhor. Minha esposa e eu encontramos santos exemplares nas três igrejas em que servimos - pessoas cujo lar estava sempre aberto para nós (e que não contavam para a igreja toda que estávamos iá!), cujo coração sentia nossas preocupações e necessidades e cujas orações nos sustentaram em tempos difíceis. São cristãos que ministram nos bastidores, mas que o Senhor recompensará publicamente "naquele Dia" (2 Tm 1:18). Onesíforo viajou de Éfeso para Roma e, mais que depressa, procurou Paulo a fim de ministrar às necessidades do prisioneiro. Ao que parece, teve dificuldades em encontrar seu antigo pastor (2 Tm 1:17). Talvez alguns cristãos romanos ainda estivessem fazendo oposição a Paulo, como na primeira vez em que ele foi preso (ver Fp 1:12-17). Talvez os oficiais romanos não fossem cooperativos e não quisessem permitir que seu prisioneiro especial recebesse ajuda. Da primeira vez em que ficou preso em Roma, Paulo permaneceu na própria casa (At 28:30); mas agora estava numa prisão romana, sob forte vigilância. Mas Onesíforo persistiu! Encontrou Paulo e arriscou a própria vida para ficar a seu lado e ajudá-lo. Alguns estudiosos acreditam que Onesíforo também foi preso e, possivelmente, executado. Baseiam essa idéia no fato de Paulo saudar a "casa de Onesíforo" em 2 Timóteo 4:19, mas não o próprio chefe da família. Além disso, Paulo pede que o Senhor conceda misericórdia presente a essa casa e futura a Onesíforo (2 Tm 1:16, 18). Mas há um problema: se Onesíforo havia falecido, então Paulo orou pelos mortos (2 Tm 2:18), algo que a Bíblia não nos autoriza a fazer.Não temos prova alguma de que Onesíforo estivesse morto quando Paulo escreveu esta carta. O fato de Paulo pedir que Deus abençoasse a casa desse homem, mas não mencionar o nome dele, pode significar, simplesmente, que Onesíforo não estava com a família. A frase "tendo ele chegado a Roma" (2 Tm 1:17) sugere que, quando o apóstolo escreveu a carta a Timóteo, Onesíforo não estava em Roma. Encontrava-se, portanto, em algum lugar entre Roma e Éfeso, de modo que Paulo ora por ele e por sua casa. Não há necessidade de saudar Onesíforo, pois Paulo havia acabado de passar um longo tempo com ele, de modo que o apóstolo saúda apenas sua casa. Onesíforo não se envergonhou das algemas de Paulo. O apóstolo ficava preso a um soldado romano vinte e quatro horas por dia. Onesíforo poderia ter inventado muitas desculpas para ficar em Éfeso. Em vez disso, porém, fez a perigosa viagem até Roma e ministrou a Paulo. O apóstolo descreve o ministério desse homem dizendo que, "muitas vezes, me deu ânimo". O termo grego significa "refrescar", e a frase também pode ser traduzida por "envolveu-me como ar fresco". Somos profundamente gratos a Deus pelos cristãos que são "uma brisa fresca" em nossos momentos de provação. Se não fosse pela carta de Paulo, jamais ficaríamos sabendo que Onesíforo serviu a Paulo e à igreja. Mas o Senhor sabia e o recompensará "naquele Dia". Os elementos essenciais para o ministério bem-sucedido não mudaram: entusiasmo valente, sofrimento honrado e lealdade espiritual.

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